A nossa vida é como uma estrada que nos leva ao nosso
destino. Avançamos, mais ou menos livres, para a reta de chegada. Como uma
estrada, a vida também tem partes retas e diretas, fáceis de se trilhar, mas
também tem subidas, descidas, curvas perigosas, atalhos, desvios que nos
parecem atrair para desfrutarmos de alguma paisagem mais bela ou um local
tentador, cheio de promessas ilusórias, que representam um certo perigo, mas
sem dúvida, nos excitam e nos hipnotizam, como moscas alcançando a teia de
aranha, para logo nos arrependermos de tais escolhas.
Em nossa jornada, assim como na estrada, enfrentamos
diversos acidentes, necessitando redobrar a nossa atenção, que deve ser sempre
constante, ainda que não façamos isso com o cuidado preciso. Esses acidentes
nem sempre são graves, algumas vezes, soam como um alerta, nos relembrando da
necessidade de estarmos vigilantes. Em outras vezes, na estrada, precisamos
diminuir a velocidade, de vez em quando é necessário parar para encher o
tanque, se alimentar, descansar, buscar o auxílio de um mapa, quando nos
encontramos perdidos e distantes de nossa rota conhecida. Do mesmo modo ocorre
com a nossa vida, precisamos parar para relaxar, refletir, nos auto-avaliarmos,
sonhar, pensar, aprender, buscar novos conhecimentos e novos caminhos, porém
muitas vezes, nos detemos em situações ilusórias, acreditando sermos
inacessíveis às auguras naturais da vida. Também, como na estrada, deveríamos
estar sempre vigilantes, mas envolvidos na malha da ilusão, nos acreditamos
invencíveis, e o que mundo sempre nos devolverá, aquilo que merecedores somos,
isto é, sucesso, poder, alegria, amor, e tal qual crianças surpresas, nos vemos
emaranhados naquilo que consideramos tragédias, quando na verdade são preciosas
oportunidades de retomarmos a vigilância necessária e redirecionarmos nossas
escolhas.
Caso essas situações nunca acontecessem, dificilmente nos
afastaríamos de nossas ilusões, caminhando cegamente, em direção a um abismo! A
Sabedoria Divina sabe quando é preciso nos acordar desses devaneios insanos,
para colocarmos nossa atenção aonde é importante para a nossa evolução, ou
seja, nos valores espirituais e não apenas nos materiais. Sim, é preciso dar
atenção às nossas necessidades materiais, senão não haveria progresso, temos
que sempre buscar o melhor para nós e os nossos familiares, sem contudo
esquecer de agir com prudência, respeito ao próximo, praticando a caridade,
enfim, estudando e evoluindo em direção ao Bem. Quando estamos felizes, não
queremos contato com a dor e a tristeza, muito menos dos outros, esquecendo que
a vida dá voltas, e, mais cedo ou mais tarde, nos encontraremos nas mesmas
situações desagradáveis que o nosso amigo de jornada se encontra, e também
desejaremos um ombro amigo que nos ouça e nos dê força para continuarmos a
nossa caminhada.
Normalmente, evitamos entrar em contato com essas reflexões
salutares, pelo contrário, ansiosamente lutamos para manter aquilo que
acreditamos ser felicidade, nos divertindo e adiando, infelizmente, uma
modificação que se faça necessária, para evoluirmos. Não queremos pensar, não
queremos entrar em contato, com aquilo que nos afasta do que mais gostamos, e
que nos agrada e nos leva na busca insana de só vivermos nos delírios do
prazer, sem percebermos que o buraco se alarga em nossos corações, com a
desilusão, a tristeza, a carência, tão comum em nossos dias. Nunca as pessoas
se sentiram tão sós como atualmente, verbalizam desejar o amor, mas evitam
qualquer possibilidade de amar, triste incoerência, com funestas consequências
para nós mesmos.
Ter estabilidade financeira é um desejo normal e nobre, mas
se apegar as coisas transitórias da vida é insano. Buscar ter, cada vez mais,
com a desculpa da estabilidade é se enganar a si mesmo, se acreditar superior
aos outros e viver se comparando e desejando ter igual ou mais que os outros
não é nada saudável para a verdadeira vida, e essa, sem mandar aviso, nos cobra
as atitudes que tomamos, os caminhos que escolhemos, nos acordando de nossa
cega ilusão. Sem os tropeços da vida, jamais nos preocuparíamos com as coisas
que realmente valem a pena, os valores espirituais, verdadeiros faróis que nos
iluminam e nos conduzem na estrada da vida, nos afastando dos perigos que nos
rondam nessa época de tanta hipocrisia e desmandos em nome do poder.
A estrada é repleta de encruzilhadas, a nossa vida também.
Algumas vezes nos vemos diante de uma opção entre os interesses materiais, em
busca de lucros e prestígio, em detrimento de sentimentos verdadeiros de fé, e
amor ao próximo. Nos vemos diante de opções entre vantagens imediatas da vida e
a amizade salutar, que poderá lhe comprometer o desfrute das ilusões
passageiras, o que fazer? Que estrada percorrer? Somos livres para escolher,
mas somos credores de nossas escolhas. Por maior poder que se tenha em decidir
a própria vida, e muitas vezes, até a dos outros, não podemos esquecer que
somos guiados, por Uma Força Maior, Justa e Magnânima, para situações na vida,
que irão, mais cedo ou mais tarde, aniquilar nosso personalismo, orgulho e
vaidade, nos redirecionando à luz da Verdade e, nesse momento, todas as ilusões
se esvanecem. Temos inúmeros exemplos vivos em nossa caminhada, ao nosso lado,
e é muita arrogância nos sentirmos distantes dos tentáculos da dor.
Que possamos acordar, o mais rápido possível, de sonhos
cheios de ilusões, que só fazem entorpecer o nosso raciocínio, retomando a
estrada da vida com mais responsabilidade e amor!
Texto escrito por Rosely Sola