segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A horta do Senhor Manolo


Sr. Manolo era um velhinho, espanhol de hábitos simples, olhos bondosos e sorriso agradável. As faces enrugadas, os cabelos completamente brancos, o corpo curvado e o modo de andar vagaroso mostravam a idade bastante avançada do simpático velhinho.

De fato, o Sr. Manolo muito vivera e, também muito sofrera. A esposa querida e os filhos adorados já haviam partido da Terra e, vivendo sozinho, sem família, sua vida seria bem triste se não dedicasse sua atenção à pequena, mas preciosa horta, que cultivava com muito carinho. Ali passava os dias cuidando das plantas, e seu trabalho era recompensado: sua horta era linda! A mais bem tratada da vizinhança!... Todos a admiravam, e não havia quem não tivesse provado as deliciosas frutas e verduras que o Sr. Manolo, generosamente, gostava de oferecer aos vizinhos.

Assim vivia nosso velhinho, sempre ocupado com a bonita horta que lhe trazia tanta alegria. O tempo ia passando, quando aconteceu uma coisa que o Sr. Manolo não esperava.
Num domingo em que saíra para dar um passeio, ao voltar em casa encontrou sua horta em completo rebuliço: as belas plantas floridas, as verduras e frutas, tudo aquilo que era o encanto de sua vida, estava quase que inteiramente destruída. Tamanha foi sua emoção, que não pôde dizer uma única palavra. Apenas as lágrimas, que lhe rolavam pelas faces envelhecidas, mostravam o sofrimento que sentia na alma.

Quem teria sido? Pensava ele. Quem o ferira, assim, com tanta maldade? E o Sr. Manolo chorava, olhando as mãos cheias de calos, como que perguntando se ainda teria forças para refazer sua querida horta.

Depois, mais sereno, começou a passar os olhos pela plantação estragada. Achou, então, atirada ao solo, uma pá que não era sua. Examinado-a com atenção, reconheceu as iniciais que nela estavam gravadas e ficou, por algum tempo, com a pá nas mãos, imóvel, pensativo. Seu olhar fixo, no entanto, demonstrava a grande luta que havia em seu espírito. Que devia fazer? Dar parte as autoridades? E o velhinho pensava, pensava... Finalmente, com um profundo suspiro e balançando a cabeça com tristeza, afastou-se da horta, levando para casa a pá que encontrara.

Alguns dias se passaram. Estava o Sr. Manolo sentado à frente de sua casa, quando se aproximou seu vizinho Pedro, para pagar-lhe uma conta antiga. Ouviu com delicada atenção, as desculpas do vizinho, que lhe explicava as razões da demora, e, quando Pedro abriu a carteira, falou-lhe com bondade:

- Não, amigo, não preciso desse dinheiro. Você tem filhos pequenos e sei que está passando por dificuldades. Não se preocupe mais com o pagamento. Tanto recusou o Sr. Manolo que Pedro muito agradecido, porém, um pouco confuso, voltou para casa.

Novos dias se passaram. Certa noite, fria e chuvosa, o Sr. Manolo acordou com barulhos estranhos na casa do vizinho Pedro. Gemidos, correrias... Que estaria acontecendo? Preocupado levantou-se e dirigiu-se para lá. Encontrou Pedro muito aflito, sem saber o que fazer. A esposa, gravemente enferma, gemia na cama e ele não se animava a deixá-la para ir buscar o médico.

- Não se aflija amigo, eu irei! Disse o velhinho, prestativo. Ainda tenho disposição para enfrentar o mau tempo. Sem esperar resposta, lá foi ele, curvado sob a forte chuva à procura do médico. Em breve voltaram e a doente foi atendida.

No dia seguinte, Pedro, muito pálido e abatido, caminhava pela sua horta ainda alagada pela chuva da véspera. Suas passadas incertas, seus gestos nervosos e, sobretudo, os olhos cheios de aflição, revelavam a confusão que sentia na alma. Pedro pensava e murmurava com voz trêmula:

- Que vergonha, meu Deus! Quanta maldade trago no coração! Como pude estragar tanta coisa? Se o Sr. Manolo soubesse... Ele, que é tão bom e tanto tem me ajudado... E Pedro lembrava o dia infeliz em que, embriagado, destruíra quase toda a horta do vizinho, aquele prodígio de trabalho e paciência que sempre invejara. Lembrava-se bem do que fizera e da pá que abandonara, entre as plantas caídas. Várias noites fora procurar, mas não encontrara. Onde estaria o instrumento com que praticara tão feia ação.

- Se o Sr. Manolo a descobrisse, jamais me teria socorrido. Murmurava sempre caminhando, embaraçado com a idéia de que o vizinho pudesse saber a terrível verdade. Nisto, parou, admirado. Rápido abaixou-se e puxou o cabo de um instrumento que percebera como que caído ao acaso, entre os canteiros de sua horta. Era uma pá! Como fora parar ali? Examinou melhor o lugar: era perto do muro, justamente no ponto de mais fácil acesso. Pedro compreendeu tudo:

- O Sr. Manolo já sabia que fui eu quem estragou as plantações tão bem cuidadas! E havia devolvido a pá que poderia provar a minha culpa! Então, sem mais demora, Pedro correu a casa do velho espanhol. Encontrou-o trabalhando ativamente:

- Olá, amigo seja bem-vindo! Disse o velhinho, parando e apoiando-se na enxada. Pedro aproximou-se humildemente. Quis falar, mas não conseguiu, pois soluços lhe sufocaram a voz. Ajoelhou-se aos pés do velhinho e beijou-lhe as mãos, molhando-as com suas lágrimas. O Sr. Manolo, comovido, sem nada comentar, olhava-o com bondade, fazendo, contudo, com que o vizinho se levantasse. Pedro ergueu-se e, animado pelo sorriso acolhedor do velhinho, enxugou as lágrimas, e disse:

- Perdão! Perdoe-me, eu estava bêbado e coberto de inveja, quando destruí sua horta. Perdão! Depois, silenciosamente, pegou a enxada e começou a capinar vigorosamente, com o firme desejo de desfazer os prejuízos que causara àquele bom homem que já o havia perdoado.


Desconheço o autor desta história, nem mesmo sei dizer se é verídica ou não. Porém, poderia ser, e revela um aprendizado profundo! Sempre se ouviu dizer: “Olho por olho e dente por dente”, e chegamos às guerras... Jesus nos ensinou que devemos dar a outra face, o que parece um absurdo para os orgulhosos!

Imagine o final desta história, se o Sr Manolo tivesse aplicado o olho por olho...
Além do inconveniente de muitas brigas e dissabores entre os dois vizinhos, afetando crianças inocentes, Pedro não teria tido este maravilhoso crescimento espiritual. A amizade entre os dois se fortaleceu, e, com certeza, ele fará a mesma coisa por outra pessoa que cruzar o seu caminho e lhe fizer uma maldade. Pense nisto! O mundo seria bem diferente, se todos agissem assim!

Não podemos mudar o mundo, seria muita arrogância de nossa parte acreditar nisto, mas podemos mudar as pessoas perto de nós. Pode parecer pequeno, mas o oceano é feita de várias gotas de água. Nós podemos fazer a diferença, a escolha é nossa! O convite está feito, tenha um excelente dia!

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